sexta-feira, 21 de maio de 2010

Gosto muito de você

Na primeira noite que percebi algo diferente, fui indiferente, seria ridículo da minha parte interpretar a dor de cabeça dela como desculpas para qualquer contato comigo. Ela me amava. E ainda me beijava, não com o mesmo ardor de antes, mas um diferente, só nela, o que ela justificava início de uma crise de herpes. Mas o cotidiano seguia, ela seguia a rotina normalmente, o que me deixava na dúvida, isso era bom ou não? Não sei, nem sabia. Mas sabe quando você acorda e recebe abundância de eu te amo? Você vai pro trabalho feliz, afinal não é todo dia que isso acontece, foi como se ela lesse minha mente e satisfizesse na manhã seguinte, geralmente acordo com enxurrada de esporro - por mais ambiguo que isso pareça, acredite, quem costumava dar esporro era ela. No trabalho, todos notam a sua felicidade que logo denota em fidelidade, ou seja, nesse dia você não olha para a bunda da advogada do primeiro andar quando busca arquivos na gaveta de sua sala. Você ama sua esposa. Pelo menos nesse dia. E olhar pra bunda da advogada seria o mesmo que comer big bob`s pensando no bigmac. Diferença de valor e pepino. Certo? Ah, alguns especulam sobre o molho. Eu me recuso. A verdade é que olhar pro bigmac não mata ninguém. Me arrependo, pense, ninguém sabe que você observou - ao menos se a advogada soubesse- e você perdeu uma de bobeira. Sua mulher te tratará da mesma forma, ela não sabe. Nem saberá. Desconfia talvez, mas afinal todos nós comemos arisco pensando na hellman’s. Sua mulher também. Um dia desses peguei minha, é, minha mulher reclamando porque pediu para que eu comprasse pepino caipira e eu trouxe o japonês. Diferença mínima de expessura, mas, que ela garante ter outro sabor. Bem, ela almoçou pepino japonês pensando no caipira. Por isso me arrependo, poderia jantar minha mulher enquanto penso na advogada? Ela traiu o pepino japonês. Não? Sim. Hoje acordei sem enxurradas, acordei com um ‘’gosto muito de vc’’. Minha mulher, ex, acho, transava comigo pensando no vizinho. Mas eu, eu nem olhei para advogada.
Hoje fui a feira. Comprei pepino caipira, comi com um bigmac. Também gravei minha voz dizendo eu te amo, uso como despertador – ele nunca me dá esporro.

10 comentários:

Stipe disse...

hahahahahaah
Big Bob pensando no Big Mac
Otima comparação x.x
asuhahuasuh

Existenciofrênico disse...

Seus textos sempre me incomodam.

Renata Vianna disse...

Como sempre mto interessante! Adoreii

a_rosa disse...

adoreeei, ser x parecer, é fidelidade é palavrinha difícil de entender, seja pepino, hamburger ou gente. Mas quem nunca comeu big bob's penanso no big mac! rsrs

bruniuhhh disse...

pareceu duro o caminho.

Lucas Seixas Ribeiro disse...

Meu deeeus, cada vez mais incrivel, Wes!!! ADOREI MUITO!!!! uhahauhahuhh... ri mto também! Adorei mrmoo!!!

Unknown disse...

Com certeza essa é uma crônica!E das boas!Só posso dizer que você tá d+! Será influência daquela escritora famosa que atende por nome de Rosa? Bj.

Monique Hardoim disse...

Passeando por muitos blogs descobri o seu!rs

Parabéns pela qualidade literária!

Beijos

Ricardo Rigel disse...

Qualidade literária. É, essa pode ser a expressão. Mas não a única.
Seu texto possui o segredo do molho especial, com o sabor do queijo do hambúrguer bobisniano. Essa mistura, esse ocultismo. Sim pq, vejo as entrelinhas. Texto IMPERFEITO, do jeito que eu gosto.

Via do Engenho disse...

Gostei da idéia:
vou gravar um "eu te amo"
bem reconortante pro meu ego despertar toda manhã...
e não é plágio não _ é sampler...
rsrsrs...

''(...)Ninguém quer confissões aqui.
É mesmo melhor continuar escrevendo
essas frases curtas, que assim amontoadas, dão um ar de coisa, coisa pensada,
e nem é, sabe? nem é importante...
Só um pouquinho importante,
um pouquinho,
como se ela bebesse um copo de uísque
e fumasse um marlboro e mandasse uns 3 tomarem no cu,
é mais ou menos isso,
isso aqui,
que não pretende ser confissão, nem lembrança,
nem emocionante, nem inteligente, nem valerá a página
que será impressa.
Tem a premência de salvar, mas não é uma bóia, não provoca epifânias, e por isso nem é inspiração.
Não provoca nada.
Ocupa. Aqui todo mundo precisa estar ocupado,
quando dá essa vontade louca de morrer, é bom fingir ser um poeta. É. É melhor continuar escrevendo.
Pronto. Ela já não quer mais se matar.
Por enquanto acredita, acredita mesmo,
ser indispensável.''

(Fernanda Young - Dores do Amor Romântico)

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