sábado, 15 de janeiro de 2011

Noite feliz

Faltavam 7 minutos para 1 da manhã. Em cima da mesa haviam potes de ketchup, mustarda com mel e um mais destacado de maionese. O relógio se quer rangia, não havia esperança de nem um pio com cada hora alcançada. Um relógio digital embutido na parede; seu silêncio era sua maior qualidade. O carpete limpo para pés pretos alcançava uma quantidade de ácaros suficientes para congestionar narinas e provocar uma eclosão. A parede era de um bege claro, bem clarinho, era bege claro. Uma televisão de LCD, plasma, Led ou sem bunda possuia uma resolução inacreditável; aquelas partículas unidas que formam uma imagem impressionante na tela eram impossíveis de serem notadas, todas trepadas umas nas outras, algo que automaticamente me remete à proximidade dos ácaros do carpete. As cortinas cruas faziam aniversários.Os móveis eram de pura réplica de madeira nobre. Um espelho à esquerda exibia o quão corcunda estava o homem que jantava. Na mesa de centro, controles e papéis diversos condecoravam o ambiente. No sofá, um homem assistia ao telejornal pronto para uma primeira queixada de sono no peito. O homem da mesa, enquanto de colher e garfo separava lentamente cada molho já misturado de seu prato, tossiu duas vezes. Dois minutos depois ouve-se espirro de algum outro cômodo. Vozes indecifráveis para uma mente distraída soaram da televisão quando calorosamente o apresentador disse Merry Christmas.

5 comentários:

Existenciofrênico disse...

Um certo ar inacabado. Marasmo, solidão a dois ou a três. Escuro, a luz da tv sendo a maior das fontes de luz ali. Sufocamento. Homens e objetos são a mesma coisa ali.

Como sempre, seus textos me trazem estranheza e névoa.

Karen disse...

Eu imagino quanta gente deve passar por isso... conheço algumas, mas nunca presenciei. Não consigo me ver numa cena dessas, e espero nunca conseguir. Que angústia..

Stipe disse...

Um cotidiano não tão incomum, e as vezes vc pode até ficar rodeado de muitas pessoas e ficar nessa mesma situação.

Vânia Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vânia Ribeiro disse...

Totalmente entristecedor! Poderia ser descrito desta forma, porém retrata não só a realidade de algumas pessoas , mas também retrata o cotidiano de várias pessoas que deixam simplesmente que a vida passe por elas,a vida se torna totalmente sem expectativas que os dias são sempre iguais, não interessando se é uma data especial ou não. bjs Wes

''(...)Ninguém quer confissões aqui.
É mesmo melhor continuar escrevendo
essas frases curtas, que assim amontoadas, dão um ar de coisa, coisa pensada,
e nem é, sabe? nem é importante...
Só um pouquinho importante,
um pouquinho,
como se ela bebesse um copo de uísque
e fumasse um marlboro e mandasse uns 3 tomarem no cu,
é mais ou menos isso,
isso aqui,
que não pretende ser confissão, nem lembrança,
nem emocionante, nem inteligente, nem valerá a página
que será impressa.
Tem a premência de salvar, mas não é uma bóia, não provoca epifânias, e por isso nem é inspiração.
Não provoca nada.
Ocupa. Aqui todo mundo precisa estar ocupado,
quando dá essa vontade louca de morrer, é bom fingir ser um poeta. É. É melhor continuar escrevendo.
Pronto. Ela já não quer mais se matar.
Por enquanto acredita, acredita mesmo,
ser indispensável.''

(Fernanda Young - Dores do Amor Romântico)

Quem acompanha